É preciso ter fé

por Delmo Fonseca

Cosmovisão é um modo de olhar o mundo, de maneira que agimos ou reagimos conforme as convicções que sustentamos. Antes da Nova Aliança, isto é, a Graça de Deus, usava-se a lente da lei de Moisés para se compreender a vontade do Pai e, consequentemente, o mundo.  Ao afirmar que “o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4), o apóstolo Paulo nos convida a um novo olhar. Em outras palavras, somos convidados a termos nossos olhos iluminados com o intuito de vislumbramos um novo céu e uma nova terra.  

Embora a lei de Moisés, em si mesma, seja boa, os que vivem sob a lei se encontram debaixo de maldição, pois ao deixarem de cumprir um só preceito inviabilizam os demais. “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las”     (Gl 3.10).  Esta pergunta ecoa: ainda há quem viva debaixo da lei? Dificilmente encontraremos quem admita estar sob o regime da lei mosaica, mas certas práticas religiosas, tais como: jejuar  a fim de obter o favor de Deus, guardar  o sábado, subir monte para falar com o Senhor etc. Se estas práticas não visassem uma contrapartida, uma recompensa,  seriam apenas atos simbólicos, porém não é o que ocorre. Por exemplo: quem jejua, guarda o sábado ou sobe monte; quem participa de correntes ou faz votos com o intuito de ser abençoado também se comporta como se estivesse sob o regime da lei.

Mas há outra maneira de alcançar o favor de Deus? É isto que chamamos de cosmovisão da graça. O mundo descortinado pelo Espírito de Deus só pode ser apreendido por olhos iluminados. É pela fé que Deus deseja que vivamos. O Evangelho da Graça muda nossa perspectiva. Se antes olhávamos o mundo de um ponto de vista em que nossos méritos objetivavam atrair a atenção de Deus, hoje buscamos viver pela fé. "É evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé." (Gl 3.11).  Deus conhece nossas necessidades, sabe o quanto somos dependentes dele. No entanto, a fome do pão material não pode preceder a espiritual. É certo que Deus supre cada um de nossas carências, mas o Espírito Santo deseja que tenhamos fome da justiça de Deus, sede do seu amor. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6).  O salmista também diz: “Porque o SENHOR Deus é sol e escudo; o SENHOR dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente” (Sl 84.11).

É preciso ter fé.  Novamente o apóstolo Paulo nos orienta a abandonarmos a visão tradicional de mundo, que se fundamenta na autossuficiência humana, e abraçarmos a visão de Cristo. O Senhor nos convida a fazermos parte da família de Deus, isto é, compormos sua Igreja. Para isso se faz necessário uma mudança de mentalidade, o que nos leva a abraçar a graça  e crer que esta nos basta.  “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12:2).

Sendo assim, olhar o mundo pela lente da graça  fará com que sejamos agentes do Reino de Deus, embaixadores por Cristo. Mais uma vez afirmamos: é preciso ter fé.

 

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