
Babilônia à luz da graça
por Delmo Fonseca
O título de uma telenovela não é escolhido por acaso. Quem conhece um pouco do universo editorial sabe o quanto é penoso escolher um título para um livro. Não menos trabalhoso é para quem milita no segmento audiovisual ter que pensar num título para um filme ou CD de música. É difícil, às vezes, nomear até mesmo um poema ou um conto, daí a afirmação de que o título de uma telenovela não é obra do acaso. Por que Babilônia? Permita-me exercer o direito de apenas questionar, pois em determinados casos perguntar não ofende. Por que Babilônia? Se o intuito de um novelista ao escolher um título para sua dramaturgia é suscitar discussões e alavancar audiência para a emissora que contrata seus serviços, os atuais autores de Babilônia conseguiram ouriçar parte do movimento cristão-evangélico-brasileiro. De parlamentares a blogueiros, de manicures a teóricos da conspiração não se fala em outra coisa. Que coisa? Que está no ar uma novela que afronta a moral e os bons costumes da família. Mais uma pergunta: quais eram os bons costumes da Babilônia? Partiremos da perspectiva do evangelho da Graça para pensarmos esta questão.
O livro do Apocalipse retrata a Babilônia como a prostituta-mor, aquela que sobrepuja as demais meretrizes: "... grande Babilônia, mãe de todas as prostitutas e de todas as pessoas imorais do mundo." (Ap. 17.5). No versículo anterior o texto relata que esta grande meretriz usa um vestido cor de púrpura e vermelho vivo, está coberta de enfeites de ouro, de pedras preciosas e pérolas. Ela também segura em sua mão uma taça de ouro cheia de vinho, com o qual muitos se embebedam.
Nos tempos do rei Nabucodonosor, o profeta Jeremias afirmou que nas mãos de Deus “a Babilônia era como uma taça de ouro que fazia o mundo inteiro ficar bêbado. As nações beberam o vinho que havia nela e ficaram fora de si.” (Jr 51.7). Ao traçar um paralelo com a ficção que se apresenta à guisa de telenovela, talvez o propósito da emissora seja este mesmo: embriagar os telespectadores com o vinho barato da alienação. Em outras palavras, talvez a mensagem que se queira passar é a de que os valores cristãos foram superados, que vivemos numa era ou época em que o lema é “just do it”, isto é, “apenas faça”, pois não há barreiras, limites, afinal, podemos tudo. Podemos tudo? Esta é outra pergunta.
Não obstante, os que procuram um outro vinho que não seja o que está sendo oferecido pela telenovela, lembramos que o primeiro milagre de Jesus consistiu na transformação de água em vinho de primeiríssima linha. Diferentemente do vinho misturado servido pela grande meretriz, o vinho oferecido por Cristo é de graça, é o cálice da Nova Aliança, ou seja, a Maravilhosa Graça. “Escutem, os que têm sede: venham beber água! Venham, os que não têm dinheiro: comprem comida e comam! Venham e comprem leite e vinho, que tudo é de graça. Por que vocês gastam dinheiro com o que não é comida? Por que gastam o seu salário com coisas que não matam a fome? Se ouvirem e fizerem o que eu ordeno, vocês comerão do melhor alimento, terão comidas gostosas. Escutem-me e venham a mim, prestem atenção e terão vida nova. Eu farei uma aliança eterna com vocês e lhes darei as bênçãos que prometi a Davi.” (Is 55.1-3).
Os valores de Cristo são imutáveis, baseiam-se no amor e na graça de Deus. Os valores de Babilônia, a novela, apregoam o triunfo do ser humano voltado para si. Mas há um alento: ainda no Apocalipse há o vaticínio da grande meretriz: “Caiu! Caiu a grande Babilônia!”. Sendo assim, nos resta concluir que ao tomar do próprio vinho misturado a Babilônia se embriaga, tropeça nas próprias pernas e cai.