
Curando os pensamentos trôpegos
Ele não permitirá que teus pés vacilem;
aquele que te guarda não se descuida.
Sl 121.3
por Delmo Fonseca
Pés vacilantes produzem um desequilíbrio no corpo. O andar claudicante, manco, denuncia esse desajuste, essa desarmonia. Há casos em que um simples passo já se faz motivo de muita alegria. A Bíblia narra no livro dos Atos dos Apóstolos (3.1-8), que “Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona. E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam. O qual, vendo a Pedro e a João que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola. E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.”
Esse episódio nos coloca na direção do entendimento que queremos compartilhar: à semelhança de um corpo claudicante, nossa alma também carece de ajustes a fim de darmos passos firmes no caminho que conduz à vida. Pedro e João tinham plena certeza de quem eram e a quem serviam. Pedro, ao falar com o homem que lhe pediu esmola, respondeu: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram.” A promessa de vida consiste em termos passos firmes se quisermos seguir a Cristo. Quais os efeitos de um passo firme? “... seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.”
Uma fé que titubeia, vacila, não consegue se manter de pé. Pode-se dizer que uma fé claudicante, manca, faz a pessoa tropeçar ante o menor obstáculo. Era contra esta fé manca que o profeta Elias lutava: "Então se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu" (1 Reis 18.21). Elias queria que o povo tomasse uma posição, não ficasse em “cima do muro”, pois sabia que um pensamento dividido levaria ao insucesso. Da mesma forma esse raciocínio se aplica à graça de Deus. Não se pode acolher a graça como visão teológica e na prática desconsiderar o sacrifício vicário e perfeito de Cristo, “porque pela graça somos salvos, por meio da fé; e isto não depende de nós, é dom de Deus. Não depende das nossas obras, para que ninguém se glorie”(Ef 2.8-9).
Em suas cartas, o apóstolo Paulo nos assegura que é por meio da graça que firmamos nossa fé. Não há mais espaço para o mérito próprio revestido de religiosidade. “Porquanto, se é pela graça, já não o é mais pelas obras; caso fosse, a graça deixaria de ser graça”.
O evangelho da graça firma nossos passos ao nos dar segurança, ao nos colocar sem véu diante de uma realidade espiritual denominada “reino de Deus”. Não há meio termo, não se poder servir a Deus e a homens, não se pode buscar o reino de Deus e ao mesmo tempo depositar as esperanças no reino dos homens. A razão de muitos de nós não vislumbramos uma vida de alegria e paz está no pensamento trôpego, na fé vacilante. “Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.7-8). Um coração dobre pode ser entendido como uma mente dividida, que produz pensamentos difusos, emoções dúbias, isto é, incertezas.
O nosso Deus e Pai, em comunhão com o Filho e o Espírito Santo, nos convida a uma renovação de pensamento onde o medo dê lugar à fé, pois sem fé é impossível agradá-lo. Com seu amor eterno, Deus nos acolhe em seus braços, sara nossas feridas, renova nossas esperanças, de modo que esta seja nossa oração: "Restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os nossos pés, para que não se extravie o que é manco, antes seja curado" (Hb 12.12-13). Graça e paz!