
Os tempos são outros
por Delmo Fonseca
Houve um tempo em que para se obter o perdão de Deus, deveria se realizar um ritual de expiação, isto é, sacrificar um animal pelas faltas cometidas. O sangue derramado sobre o altar conferia justificação ao pecador. “Oferecerás os teus holocaustos, a carne e o sangue sobre o altar do Senhor teu Deus; e o sangue dos teus sacrifícios se derramará sobre o altar do Senhor teu Deus, porém a carne comerás” (Dt 12.27). Mas os tempos são outros. Hoje cremos que fomos justificados pelo sacrifício único e perfeito de Jesus. “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb 10.14).
Houve tempo em que era preciso guardar o sábado como o Dia do Senhor. Nesse dia o povo descansava de suas obras a fim de servir a Deus. “Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando-o nas suas gerações como pacto perpétuo. Entre mim e os filhos de Israel será ele um sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, e ao sétimo dia descansou, e achou refrigério” (Ex.31.16). Mas os tempos são outros. Por meio de Cristo Jesus entramos nos descanso do Senhor pela fé. “Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; entretanto, a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram. Porquanto, somos nós, os que temos crido, que entramos no descanso...” (Hb 4.2-3).
Houve um tempo em que se buscava o lugar (monte ou instituição religiosa perfeita) a fim de adorar o Senhor. “... disse-lhe a mulher: Nossos pais adoravam sobre este monte, mas vós, judeus, dizeis que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (Jo 4.20). Mas os tempos são outros. Hoje cremos que o nosso coração é o lugar onde Deus espera ser adorado. “Declarou Jesus: Mulher, podes crer-me, está próxima a hora quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mas a hora está chegando, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai, em espírito e em verdade; pois são esses que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.21,23).
Houve um tempo em que se atribuía à figura do diabo todo o mal do mundo, o que desresponsabilizava o ser humano por seus atos transgressores. Esse mesmo diabo que um dia fora um anjo bom, não tardou a ser um corruptor de homens. “Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” (Ez 28.14e15). Mas os tempos são outros. Hoje cremos que o mal latente na natureza humana propicia as mais variadas manifestações diabólicas. “Porque do coração é que procedem os maus intentos, homicídios, adultérios, imoralidades, roubos, falsos testemunhos, calúnias, blasfêmias. Essas coisas corrompem o indivíduo” (Mt 15.19e20).
Houve um tempo em que o Espírito de Deus esteve ausente do coração dos homens devido suas transgressões. “Todos pecaram e foram afastados da presença gloriosa de Deus” (Rm 3.23). Mas os tempos são outros. Hoje cremos que por meio da maravilhosa graça fomos acolhidos pelo Pai. A misericórdia de Deus transbordou de tal maneira que seu próprio Espírito veio habitar em nós. Os tempos são outros. Cremos que pela graça somos salvos, remidos, curados. O grande amor de Deus se faz presente e nos garante a paz, ainda que em meio a um mundo hostil. “Diante de tudo isso, o que mais podemos dizer? Se Deus está do nosso lado, quem poderá nos vencer? Ninguém! Porque ele nem mesmo deixou de entregar o próprio Filho, mas o ofereceu por todos nós! Se ele nos deu o seu Filho, será que não nos dará também todas as coisas? Quem acusará aqueles que Deus escolheu? Ninguém! Porque o próprio Deus declara que eles não são culpados. Será que alguém poderá condená-los? Ninguém! Pois foi Cristo Jesus quem morreu, ou melhor, quem foi ressuscitado e está à direita de Deus. E ele pede a Deus em favor de nós. Então quem pode nos separar do amor de Cristo? Serão os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição, a fome, a pobreza, o perigo ou a morte? (...) Em todas essas situações temos a vitória completa por meio daquele que nos amou. Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor” (Rm 8. 31-35,37-39). Enfim, os tempos são outros.