
Qual é a graça?
Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus...
Hb 12.15
por Delmo Fonseca
A privação é inerente à condição humana. Não temos tudo o que queremos, somos seres faltantes. No entanto, as Escrituras nos exorta a buscarmos uma vida cheia da graça de Deus. “...que ninguém se prive da graça de Deus” (Hb 12.15).
Quando tentamos, por meio da religiosidade, “mover” as mãos de Deus a fim de que nossas necessidades sejam supridas, estamos deliberadamente fora do alcance da graça. Mas a graça não está sobre todos? O apóstolo Paulo nos ensina que “... a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens" (Tt 2.11). Ainda assim, quantos se atentam para o fato de que a graça é a concretização do amor de Deus? Todo aquele que despreza esse fato está se privando da graça de Deus, isto é, por ignorar o que não poder ser ignorado está se autoimpedindo de viver pelo favor imerecido do Senhor.
Quando um pregador incita seus ouvintes a “colocarem” Deus contra a parede exigindo que o Senhor os sirva de qualquer maneira, está-se dessa forma privando-os da graça de Deus. Somente por meio da maravilhosa graça é que vislumbramos o amor de Deus em sua essência. “... a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo" (Jo 1.17). Em outras palavras, Cristo é a manifestação da graça de Deus e ninguém pode se privar deste privilégio, qual seja, viver com ele e para ele. “E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5.15).
“Privilégio, qual privilégio?”, perguntaria um descrente. A confusão entre o que é meramente religioso e o que é espiritual faz com que muitos se privem da graça de Deus. É desafiador para todos nós, seres faltantes, crer que andar com Cristo é um privilégio, pois esta jornada não é feita sem o peso da cruz, ao contrário, revela-nos o quanto somos afligidos em seu nome. “E aquele que não toma a sua cruz e não me segue, também não é digno de mim” (Mt 10.38). O privilégio, neste caso, consiste em estar no caminho.
A privação não pode ser entendida como uma provação. Ninguém é provado com a falta da graça, mas o desconhecimento do amor de Deus pode privar-nos da sua graça. Sendo assim, o que resta são tentativas vãs de se viver confiando na própria sabedoria. Fica a pergunta: qual é a graça?